segunda-feira, abril 9

Rei dos cachos-Revista Cabelos&Cia

Rei das ondas

Robson Trindade, do salão Red Door, construiu uma carreira de sucesso baseada no princípio da excelência. Defensor da técnica aliada à sustentabilidade, é hoje um dos maiores especialistas em cacheados do Brasil


Filho de cabeleireira, o hairstylist já cortava o cabelo dos amigos na adolescência. Quando começou a namorar Tânia, hoje sua esposa, descobriu que a mãe dela também tinha um salão. Apaixonados pela área de beleza, os dois decidiram se especializar. Ele como cabeleireiro, ela como esteticista e maquiadora. Trabalhando sempre juntos, desde o primeiro salão – que ficava em cima de uma padaria e, muitas vezes, se tornava um local impossível de permanecer por causa do calor – os dois conquistaram as clientes. Desde as mais antigas (como as enfermeiras do Hospital Santa Rita de Cássia, em São Paulo, vizinho ao salão, que adoravam como o cabeleireiro sabia como ninguém cuidar de seus fios crespos) até atrizes famosas.

O trabalho em conjunto com outros profissionais sempre foi um ponto importante para você?
Sim, claro. Além da Tânia, minha maior incentivadora, outras pessoas foram muito importantes no caminho até o Red Door. Meu filho Rodrigo, por exemplo, quis aprender a profissão porque tinha ciúme de um rapaz que trabalhava comigo, o Rogério. Ele era bem jovem quando veio trabalhar no salão e aprendeu tudo muito rápido. Passou a ser meu braço direito. Meu filho, achando que eu passava mais tempo com o Rogério do que com ele, também quis ser cabeleireiro. Consegui matriculá-lo na Escola Teruya, muito tradicional em São Paulo, apesar de ele ter apenas 14 anos e a escola só aceitar maiores de 18. Ele se aplicou tanto que, na formatura, o Sr. Teruya fez um discurso elogiando-o como um dos melhores alunos que já teve. Depois disso, Rodrigo teve diversas experiências internacionais e venceu concursos no Brasil e no exterior. Isso me fez pensar que, como ele, outros jovens poderiam se tornar grandes profissionais, e foi então que comecei a dar aulas e ministrar cursos.

Atuar em diferentes setores na carreira é um fator de motivação para você?
Sim. Meu filho fez cursos em vários países e, após voltar de uma temporada na Itália, sugeriu que vendêssemos nosso negócio e fôssemos trabalhar em uma rede grande. Nessa época, já tínhamos três unidades com o nome Robson & Tânia. Mas Rodrigo via na mudança um potencial maior, além da possibilidade de ajudar mais profissionais a evoluir. Daí surgiu a parceria com o Jacques Janine. Ajudei a reestruturar a área técnica de várias unidades da rede. Era um trabalho muito gratificante, porque eu levava meu conhecimento para “arrumar a casa”. Mantivemos a parceria por vários anos, até que em 2004 aluguei um imóvel na Vila Nova Conceição para abrir um novo Jacques Janine. Infelizmente não deu certo e resolvi investir num salão próprio, o Red Door.

Quando descobriu o potencial de trabalhar com cabelos cacheados?
Em uma visita à feira International Beauty Show, em Nova York, conheci um método de trabalho com fios cacheados. Fiquei dois dias em frente ao estande vendo a equipe trabalhar. Depois de muitos anos lidando com alisamentos, essa era a oportunidade de aprender algo novo. Após observar, pedi para participar de um curso com o grupo. O que faziam consistia em lavar o cabelo de forma natural para obter o enrolado ideal. A empresa era a Deva Concepts e essa técnica de cuidados com os cacheados, ao ser introduzida por nós no Brasil, tornou-se um grande sucesso.


E que diferencial você descobriu nessa técnica, ainda desconhecida no Brasil?
Entre as mulheres brasileiras, 87% têm madeixas onduladas, cacheadas, crespas ou fora de controle. E elas são muito delicadas. Tenho comparado atualmente o fio ondulado com a comida japonesa. Nessa culinária, são feitos rolinhos com a comida, certo? É como se fossem os cachinhos. Já imaginou comer aqueles rolinhos lindos e perfeitos com um garfo? Iria destruí-los. Com essa associação, percebi que quanto mais delicado eu fosse com o cabelo enrolado, melhor seria o resultado obtido. Então, cada vez mais tratamos os cacheados de maneira suave. No Red Door não usamos pente, toalha, não esfregamos as mechas, não passamos muito as mãos. A cliente não precisa se preocupar, pois o cabelo vai ficar no lugar onde ele mesmo quer.

Como alcançar essa delicadeza no trato com os cacheados?
Fiz um curso em San Diego, nos EUA, com uma pessoa excepcional, a Susanne Kende. Foi ela quem me alertou para essa associação entre cachos e comida japonesa. A partir daí, passamos a usar hashis para manipular o cabelo das clientes. Isso permite que os caracóis sejam tratados com a maior delicadeza possível e não se desmanchem. Evitamos mexer neles, mas se for preciso, usamos os hashis. Algumas pessoas acham que é frescura, mas faz toda diferença no resultado. Com Jessica McGuinty, outra profissional americana, aprendi a trocar as toalhas por estolas de tecido para secar os fios. Há dois tipos delas: as feitas de algodão, que uso nos curtos, e as de microfibra, para os cabelos compridos. A vantagem no uso dessas peças é que podem ser higienizadas apenas com água, ao contrário das toalhas, que exigem detergentes agressivos ao meio ambiente na lavagem.


 Você se preocupa bastante com a preservação do meio ambiente, certo?
Muito. Está na hora de cabeleireiros e clientes acordarem e se comprometerem com a responsabilidade social. Uma questão fundamental é que não se pode, de forma alguma, usar xampu com lauril sulfato de sódio. Essa substância é altamente poluente e é usada para dar volume ao produto. Só que o mesmo ocorre com o cabelo. Quando se usa xampu com lauril, ele fica cheio, armado. Há alguns anos venho falando de sustenta-bilidade. Em Santana do Parnaíba (SP), por exemplo, no Rio Tietê, há aquela espuma densa, com um cheiro horrível. Aquilo é causado pelo lauril sulfato de sódio. A espuma vai sendo processada em várias quedas d´água até chegar lá, e se torna aquela poluição gigantesca.

Existe uma forma correta para cortar madeixas cacheadas?
Os fios devem sempre estar secos, porque o cabelo ondulado precisa ser esculpido no rosto da pessoa. Nem mesmo penteio, para não mudar o formato dele. Prefiro usar a tesoura em formato de U, que me ajuda a desenhar o visual. Como a anatomia da cabeça tem o contorno ovalado, a tesoura neste formato ajuda a manter a mesma forma do couro cabeludo. O cacho tem de ser cortado reto, para ficar contido e não se tornar espigado. Quanto à secagem, o ideal é que seja ao natural.

Há diferença entre os tipos de cachos?
Sim, há muitas variações. No salão, criamos uma árvore de cabelos. Sempre que cortamos fios enrolados, guardamos. E essa árvore é feita só de cachinhos. Isso foi criado para ver os tipos de caracóis que existem. Depois, descobrimos que quando o tempo muda, a forma deles sofre alteração. O mais interessante de tudo isso é perceber que quando você lava com suavidade e deixa secar naturalmente, a cliente sai com um cabelo que jamais viu. Não usamos babyliss, pente, nada. Só lavamos e ensinamos para as pessoas a forma correta de proceder, com delicadeza, para que elas possam repetir em casa depois. Daí vem nosso sucesso no mercado de crespos.

Quais tratamentos você recomenda que as clientes façam no salão?
Trabalhei no desenvolvimento da hidratação de néon. Ela é feita com um aparelho de ar comprimido que pulveriza o produto no cabelo. O tratamento é à base de óleo e promove um cuidado muito especial. A luz verde emitida pelo equipamento provoca regeneração da fibra e do couro cabeludo e potencializa a ação dos ativos. O procedimento pode ser feito com quatro diferentes emolientes capilares, comercializados
pela Dwell'x.

E em casa, como proceder?
A mulher precisa saber com precisão qual é o seu tipo de cabelo. Essa avaliação deve ser feita, é claro, por um profissional. Para cacheados, uma boa recomendação são fórmulas à base de óleos, em especial o de coco, além de cosméticos com alecrim e abacate. Quando dou cursos, recomendo que os profissionais procurem em sua cidade o tecido para fazer as estolas e presenteiem suas clientes com elas. Assim, as mulheres podem evitar a toalha e o secador em casa. Usar produtos não poluentes também é fundamental. Temos algumas excelentes marcas à disposição, como as brasileiras Natural Wave, LunaBlu e Vector, e as americanas Deva e Jessicurl.










 Fonte:
Revista Cabelos&Cia

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